COLUNA ZEZIN RUBRO-NEGRO
E de repente os Super-Heróis se reúnem.
Batman diz que Gotham City é a melhor cidade do mundo, Superman discorda e diz que é Metrópolis, para o Flash é Central City, Homem-Aranha não sai de Nova York , Mulher-Maravilha não esquece a ilha de Themyscira, Aquaman tem saudades de Atlântida e o Pantera Negra é o rei de Wakanda. Eis que aparece uma Professora da Zona Rural de Poção de Pedras e diz que é muito fácil ser Super-herói, tendo Super velocidade, força e agilidades. Herói mesmo é uma Professora da zona rural de Poção, que tem que ter Super força pra atravessar as estradas no inverno, super velocidade para ter jornada dupla: dar aulas e fazer o almoço da família e ainda por cima não ser reconhecida como uma super-heroína. Professores são os verdadeiros Super-heróis. Minha cidade pode não ser tão grande quanto Gotham City ou conhecida como Metrópolis, mas qual Cidade amanhecia todos os dias com a “ Voz do irmão Abraão”?: A nossa rede social do passado. Tínhamos a “ Talvez“ e a “ Perpétuo Socorro“, nossos Bels, Paraibinhas e Kalitons de antigamente. A boate do Zé Flor era o point da cidade: nossos Nilsmar e Jeová. Quando queríamos lanchar, não tínhamos a Pizzaria do “ Aí mamãe”mas tínhamos o Kisuco com pão massa-fina do seu Cabeça ou do seu Duda. Todos queriam assistir os filmes no cinema do Chico Pinto, nossa Netflix. Televisão era um recurso para poucos e tinha até um cargo na Prefeitura pra vigia da televisão que ficava na praça. Já ouviram falar das cabines da TELMA?, Eram nossos celulares. Semana Santa e da Pátria era uma Semana inteira sem aula. Farda escolar era calça de Tergal azul com camisa branca feita pelas costureiras da cidade, nossas Silvias e Célias do Passado. Tênis? Só se for K’chute ou K’bamba. O que dava “sustança” era a carne de jabá e o leite da COBAL. Time de futebol era o PAPI e o EQUITEC, precursores dos GRAXAS. Não tínhamos a piscina do Gessé, do João Carlos ou do Chiquinho mas tínhamos o açude do Janduí. Coca-cola era Baré. Whisky era cachaça da terra, tira gosto era tripa frita e sobremesa era rapadura, quebra-queixo vendido na bicicleta e alfinim da dona Marina.Jogo da Loteria? Falava com seu Jonas, que ele fazia em Pedreiras. Ninguém falava Inglês, mas todos sabiam da tabuada ou a palmatória cantava. Carnaval não tinha o Axé do Magno de Luxo ou Adrian Silva, mas tinham as marchinhas do Zé Antônio da Jaqueira na Quadra do Jardim. Não existia filtro solar e adoçante, remédio era: Sulfa, Sebazol, Contopila, Mastruz e capim santo. Diarréia era caganeira, Depressão era gente Amuada, Stress era Farnezin na cabeça, Criança Hiperativa era Atentada e alcoólatra era cachaceiro, dor de Barriga era:” Imbrui no estrombo” e mulher de resguardo passava um mês sem banhar comendo pirão de parida. Manga com leite, ovo com melancia à noite e tomar banho com febre era um veneno e ambulância era uma rede. Não existia o self-service da Branca ou da dona Francinete mas tinha a panelada da dona Rita no mercado. Dormíamos com as portas abertas, não tínhamos medo de ladrões, não sabíamos o que era isso, nossos medos eram outros: Capelobo, Caipora , Gabiru, Tota e Mija n’areia. O tempo traz muita coisa boa, arruma, ajusta, acerta as contas e vem impregnado de saudades – saudades do que se viveu, do que se fez, dos gostos, dos cheiros, das cores, de gente. Quantas pessoas fizeram parte da nossa jornada e vão embora, muitas vezes para nunca mais, e mesmo assim, tornam-se inesquecíveis? Professores, colegas de escola, de rua, familiares, vizinhos, enfim, sempre sorriremos ao nos lembrar de gente querida que passou por nós e deixou magia conosco. Sempre teremos de seguir faltando um pedaço, com lembranças apertadas de quem nos tocou fundo o coração . Na verdade, embora nós sempre achemos que o nosso ontem foi o melhor, que nossas lembranças são mais especiais, cada pessoa levará sempre consigo recordações mágicas, lembrando-se com saudade do que viveu, junto de pessoas que valeram a pena. Porque a gente guarda o que alimenta o coração. Porque a gente leva junto do peito quem compartilhou alegria conosco, mesmo que por pouco tempo. É assim, afinal, que a gente se recarrega diariamente e continua seguindo, em busca de ser feliz, na esperança de reviver tudo o que deixou o nosso caminho mais iluminado.
Créditos: Dr. Nelson Jonas
14 comentários:
👏👏👏👏👏👏
Será se esse cara pode fazer a prova de redação do ENEM por mim ?
Professor, fiquei fã do seu blog
Relembrei meu passado, só falou verdades
Estou aqui em São Paulo lendo esse texto e passou um Filme em minha cabeça.
Chorei a ler esse texto e relembrar da minha infância nessa terra querida.
Faltou só escrever aí que o vigia da televisão da praça era meu avô Zé Unias.
Nelson tá se mostrando um ótimo cronista. Parabéns meu amigo.
Minha infância se resumiu nesse texto, continue com o Blog Rogério, verdadeira aula de História de Poção de Pedras,
Pra quem está longe como eu estou, ler esse texto é relembrar minha infância.
Parabéns professor. Chorei lendo essa crônica
Já li, reli e compartilhei esse texto pra todas as pessoas da minha infância aí no Poção . Genial o texto
Eu tomei muito Ksuco no seu cabeça. Kkkkk
Muito bom! Me senti contemplado em vários momentos nesse texto.
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